A terapia com adolescentes LGBTQIAPN+
- Lo Gabriela Dias
- 22 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de jun.

Por natureza, a adolescência é um período de muitas mudanças. Há diversos desafios: o corpo biológico se altera, pressões sobre o futuro aumentam, temas como romance e sexualidade começam a aflorar, começamos a testar os limites aos quais estamos submetidos e a forma como entendemos quem somos se expande cada vez mais para além das relações familiares, entre tantos outros.
Essa fase da vida pode ser ainda mais complicada para adolescentes LGBTQIAPN+: aqueles que possuem vivências que fogem do que é considerado, pela lógica cis-heteronormativa, como “esperado” ou “normal” no campo de gênero e/ou sexualidade. É comum que enfrentem desafios que exigem um olhar atento, cuidadoso e ciente das especificidades que tanto eles quanto suas famílias vivenciam em decorrência do preconceito ainda tão enraizado em nossa sociedade.
Apesar de óbvio, é importante demarcar: ser LGBTQIAPN+ não é uma doença, distúrbio ou transtorno. O problema está em uma sociedade que, enrijecida em modelos normativos, não consegue aceitar modos de ser que escapam às suas regras. Antes de tudo, a terapia com esses adolescentes envolve oferecer um espaço seguro e sigiloso, no qual possam conversar sobre questões que, talvez, não se sintam seguros para abordar em outros ambientes. Esse também é um espaço em que sua identidade e/ou sexualidade podem ser exploradas de forma aberta e afirmativa, sem moralismos ou julgamento.

Alguns desafios específicos que esses adolescentes passam incluem bullying, a não aceitação por parte da família, isolamento, dificuldades no ambiente escolar e/ou nos estudos, bem como problemas com contextos sociais mais amplos. Esses obstáculos podem acarretar muito sofrimento, como sentimentos profundos de tristeza e solidão, ansiedade e comportamentos de risco, entre outros. Nesses casos, a terapia pode ser um suporte fundamental não só para que o adolescente possa expressar o que sente, mas também como uma espaço para pensar estratégias de enfrentamento diante dos desafios externos que surgem.
Como o adolescente não é um maior de idade e se encontra muito imerso no contexto familiar, entendo que a psicoterapia, nessa faixa etária, precisa envolver um contato com seus responsáveis e, dependendo do caso, com outros membros da família também. Assim, será importante realizar, de tempos em tempos, sessões que envolvam esses familiares. Por meio desse contato, a terapeuta pode compreender a perspectiva da família quanto ao que está acontecendo, orientar os responsáveis quando necessário e mediar a comunicação de temáticas difíceis que possam surgir durante o tratamento, entre outras possíveis intervenções.

O papel da escola na vida do adolescente também é central, visto que é nela que se dão a maior parte de suas relações fora do âmbito familiar. A escola pode tanto ser um lugar de acolhimento e suporte quanto um lugar de violência e desamparo, a depender de cada caso. Por isso, na terapia com esses adolescentes, a escola permanece sempre como um ponto de atenção devido à sua relevância na vida do paciente.